O titulo acima refere-se ao artigo escrito por mim e pelo professor Hebert Soares Bernardino, o artigo foi publicado no excelente site da Universidade do Futebol.
Segue abaixo o texto na integra , também encontrado no link na barra lateral direita do blog >>>>
Lembro-me dos tempos em que, a qualquer hora e em qualquer lugar, era possível transformar o espetáculo do futebol em um jogo praticado na rua, onde vários eram os ambientes propícios para a criação e desenvolvimento de jogos, despertando nas crianças resoluções de várias situações problemas, tomadas de decisão, autonomia para jogar, podendo usufruir de suas habilidades sem que tenha alguém para limitá-la.
Na maioria das vezes, isso acontece nas escolinhas de futebol quando professores utilizam metodologias de treinamento tecnicista.
Onde você aprendeu a jogar futebol? Esta pergunta está muito presente no meio acadêmico, já que pesquisas vêm sendo realizadas para a disseminação do treinamento ideal para o futebol, se é que existe um modelo ou modelos ideais de treinamento.
Muitos são os adeptos que o futebol de rua seja uma pedagogia a ser aplicada, querendo desenvolver o que há tempos era considerado o futebol arte, os "jogadores fazendo as regras", a imprevisibilidade do jogo, o despertar criativo dos jogadores, a variação de campos das mais diversas formas, onde os belos e bem cuidados gramados não são requisitos essenciais para o bom andamento do jogo.
Não interessa o que compõe o espaço, pois as adaptações provenientes do futebol são reveladas de acordo com a necessidade do espaço e das crianças (CABRAL, G. M. NEVES, R. L.).
Em se tratando de futebol de rua como pedagogia a ser ensinada, os aprendizados proporcionados vão ao encontro do que afirma Freire (2003), "as diferenças étnicas, sociais e culturais das diversas populações do mundo tornariam impossível qualquer padronização. Afirmando que esta se funda na rica diversidade de estímulos lúdicos presentes em nossa cultura infantil, mais especificamente na cultura de brincadeiras de bola com os pés".
Será que o ambiente rico de aprendizagem vindo da rua para jogar futebol característico dos brasileiros, que revelou inúmeros talentos desde o inicio do esporte no país, poderia ser desenvolvido com sucesso em outros países e surtir o mesmo efeito?
Como citado em entrevista à Universidade do Futebol por Nelson Caldeira sobre Portugal... "temos uma tradição muito ligada à concepção de que o "Futebol de Rua" pode ter um papel preponderante na formação dos jogadores."
Em contrapartida temos o Haiti um país com pouco desenvolvimento, onde não houve uma massificação de escolinhas de futebol, onde as crianças continuam em sua maioria a jogar futebol de rua, pode se tornar um potencial em revelar talentos?
O Haiti é um país apaixonado pelo futebol, sendo este o esporte mais praticado, uma paixão facilmente identificada pela mobilização da partida entre Haiti x Brasil em 2004, que parou completamente as atividades naquele país.
Naturalmente, nas diversas regiões e províncias, podem ser encontrados campinhos feitos com os mais inusitados materiais, em locais onde nunca imaginaríamos ver um "campo de futebol" ser construído.
Como o vínculo com o futebol é tão grande, as crianças que praticam o "futebol de rua", ganham apelidos de atletas famosos do Brasil e do mundo.
Frequentemente em captações realizadas pela Academie de Football Perles Noires, criada pela Ong. Viva Rio que mantém profissionais brasileiros no desenvolvimento do projeto, pode ser escutado vários apelidos como Zidane, Pato, Neymar, Ronaldinho, entre outros.
Voltando a questão de como deve ser o processo metodológico de treinamento, considerando o pressuposto do futebol de rua e tendo no Haiti uma "referência", por ser praticado em todo o país pela maioria das crianças e jovens como forma de lazer, por que a Seleção Nacional Haitiana não é uma referência futebolística nem mesmo na América Central e do Norte (Concacaf)?
A criança, que em meio a todas as dificuldades, busca uma oportunidade de ascensão social; atuar nos grandes centros do futebol mundial passa a ser um sonho na vida desses aspirantes a jogadores de futebol, e até mesmo uma esperança de melhores condições de vida para seus familiares.
Para isso, o processo estruturado de formação, trazido pela Academia de Football Perles Noires, vem tentando complementar algo que faltava ao caráter espontâneo do "futebol de rua" no Haiti.
Integrando as inúmeras formas de se jogar nas ruas haitianas, temos a sistematização dos exercícios e desenvolvimento técnico, tático, físico e psicossocial exigidos no futebol de alto rendimento, defendendo como cita Ricardo Paraventi, em sua entrevista para a Universidade do Futebol: "...acredito que a formação de um atleta de futebol hoje vai muito mais além".
Diante desta realidade, a Academie de Football Perles Noires tem como intuito oportunizar a essas crianças vindas do futebol de rua a preencher uma lacuna existente entre a iniciação no futebol (futebol de rua) e sua profissionalização.
Como exemplo, tem a recente parceria firmada com um grande centro de excelência em formação de atletas no Brasil, o Audax. Nessa parceria, dois atletas haitianos da Academie Perles Noires, Ricardo (sub-17) e Fenelon (sub-14) estão em período de adaptação e testes no Audax - SP.
Esperamos que este seja o começo de um futuro brilhante para esses e outros atletas, para que tenham oportunidades em grandes clubes do Brasil e do mundo.
E, quem sabe num futuro próximo, melhorar o desempenho da Seleção Haitiana e consequentemente trazer mais alegrias ao seu povo, podendo crianças se espelharem não só em atletas brasileiros, argentinos ou europeus, mas, em atletas do próprio país.
Referências
CABRAL, G. M. NEVES, R. L. Futebol arte x futebol racional: das ruas as escolinhas de futebol. http://www.efdeportes.com/efd111/futebol-das-ruas-as-escolinhas-de-futebol.htm. Revista digital – Buenos Aires – Ano 12 – No 111 – Agosto de 2007. Acesso em 27/10/2011.
CALDEIRA, N. Entrevista para Universidade do Futebol. “ Português discorre sobre Mourinho, futebol de rua e "sequenciação e manipulação ecológica" no futebol.” http://www.universidadedofutebol.com.br/2011/12/4,10810,NELSON+CALDEIRA++TREINADOR+ADJUNTO+DO+SC+BRAGA.aspx. Acesso em: 04/11/2012.
FREIRE, J. B. VENANCIO, S. O Jogo Dentro e Fora da Escola Campinas Autores associados, 2005.
FREIRE, J. B. Educação como Prática Corporal - São Paulo - Editora Scipione 2003.
__________. educação de corpo inteiro: teoria e prática na educação física 4ª Ed. São Paulo Editora Scipione, 2003.
_________.Pedagogia do futebol. Campinas autores associado, 2003.
__________. O Jogo entre o Riso e o Choro Campinas. Autores associados, 2002.
GARGANTA, J. FONSECA, H. Futebol de Rua, um beco com saída. Editora Visão e Contextos das Ciências do desporto, 2008.
GARGANTA, Júlio. Para uma teoria dos jogos desportivos coletivos. In: GRAÇA, Amandio; OLIVEIRA, José. O Ensino dos Jogos Desportivos. 2a Porto: Universidade do Porto, 1995. p. 244. Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física.
GRIFFIN, Linda L.; MITCHELL, Stephen A.; OSLIN, Judith L.. Teaching Sport Concepts and Skills: A Tactical Games Approach. Champaign: Human Kinetics, 1997. 237 p.
LEITÃO, R. Entrevista para Universidade do Futebol. "Pedagogia de Rua". http://www.universidadedofutebol.com.br/ConteudoCapacitacao/Videos/Detalhe.aspx?id=367. Acesso em: 01/11/2012.
PARAVENTI, R. Entrevista para Universidade do Futebol. "Brasileiro com passagem por Mianmar fala sobre experiência estrangeira e trabalho na Holanda." http://www.universidadedofutebol.com.br/2012/8/4,10847,RICARDO+PARAVENTI++TREINADOR+DA+ACADEMIA+DE+FUTEBOL+VATOPPERS.aspx. Acesso em: 02/11/2012.
PIRES, B. A importância do Futebol de Rua na Formação de jogadores de Futebol de excelência. Monografia apresentada à Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, 2009.
SCAGLIA, A. Artigo para Universidade do Futebol. "A infância de nossos craques: uma boa referência às metodologias de ensino para o futebol. http://www.universidadedofutebol.com.br/Jornal/Colunas/Detalhe.aspx?id=11140. Acesso em: 28/10/2012.